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# Recado demente

O meu maior erro foi fazer de ti algo grande por natureza. Depois descobri que no fundo as coisas grandes advêm de coisas pequenas. O problema que tenho com as pessoas é o facto de elas serem pessoas. Seres com sentimento, seres sem coração. A ti eu devia um mundo sóbrio, longe dos dementes. A mim, ficas-te a dever o chão. Como posso eu continuar a pisar este mundo se deste mundo não tenho réstia de noção? Fazias das coisas ilusórias claras, das minhas noites mais pacificas, dos meus dias mais suculentos. Do meio do nada, dá-se tudo. A explosão dá origem ao vazio. És um demente como os outros. A dor não é a descoberta. A dor é a assimilação das realidades paralelas. Não sei mais se se sofre do amor ou se a gente sofre do sofrimento. O amor dá origem ao sufoco. O sufoco é na verdade aquilo que nos mata.
O problemas dos seres humanos é criarem figuras ilusórias dos outros seres humanos. Acharem que são algo e serem vice-versa. Pensarem que são isto e na verdade são aquilo. É tudo muito relativo e contraditório. Aquilo que achas que é, não é. As pessoas não são aquilo que achas. As pessoas não são aquilo que tu idealizas que são. As pessoas não são aquilo que tu queres que elas sejam, contigo ou para ti. As pessoas são estranhas. Nascem estranhas. Morrem estranhas. Espaços vazios que sugam almas. As pessoas nascem sozinhas. Morrem sozinhas. No meio termo ficam acompanhadas. No meio termo ficam abandonadas. E aqui estou eu. Só. Sem ti. Perguntando-me se algum dia estive realmente com pessoas. Ou com seres que eu criei. Aqui estou eu a perguntar-me se realmente pessoa eu serei. É preciso bater no fundo para subir à superfície. Nascemos no leito. Morremos no fundo do mar. A distância entre a parte imersa e os fundos confins do oceano é a nossa vida. Não te deixes afogar.      

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